Ao Movimento Anarquista Internacional: Três Propostas de Segurança

November 15, 2024

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History

Original text in English
To the International Anarchist Movement: Three Security Proposals
No Trace Project

Portuguese translation
No Trace Project

Este texto é dedicado ao movimento anarquista internacional, que entendemos como a soma dos indivíduos lutando por ideias anarquistas ao redor do mundo. Este movimento está em conflito com seus inimigos naturais — o Estado, grupos fascistas, e afins — e deve proteger a si mesmo se pretende sobreviver ao conflito. Neste texto, apresentamos três propostas para que o movimento anarquista reflita nos próximos anos, para permitir que anarquistas continuem atacando enquanto limitam suas chances de serem pegos.

1. Compartilhe conhecimento internacionalmente

Nossos inimigos se organizam internacionalmente através da cooperação entre a polícia e agências de inteligência e novos desenvolvimentos científicos e tecnológicos — o contínuo aumento da precisão da ciência forense de DNA e a proliferação de drones sendo apenas dois exemplos. Isso significa que uma técnica repressiva usada em um país pode rapidamente aparecer em outro onde até então não era aplicada. Também significa que uma contramedida efetiva usada por anarquistas em um país pode ser efetiva em outro. Nós devemos, portanto, compartilhar o conhecimento de técnicas repressivas e contramedidas em uma escopo internacional.

Idealmente, qualquer experiência de repressão ou experimentação com contramedidas que possam vir a ser de interesse de outres anarquistes deveriam ser anotadas, traduzidas em diversas línguas, e publicizadas. Quando anarquistes são preses e levades a julgamento, nós geralmente temos acesso a documentos que revelam como elus foram capturades: nós devemos explorar isso e publicar análises de tais documentos. Nós devemos experimentar com novas contramedidas, escrever e publicar relatos destes experimentos (exceto em casos onde o Estado possa vir a adaptar e enfraquecer a contramedida caso leia o relato). Nós devemos buscar coletar informação na fonte: leia manuais de treinamento da polícia, roube arquivos da polícia, analise vazamentos de dados de servidores da polícia.

Uma característica específica do movimento anarquista internacional é sua descentralização. Nós enxergamos isso não como uma fraqueza mas como uma força: além de prevenir as hierarquias inerentes a organizações centralizadas, dificulta que nossos inimigos nos persigam pois, ao atacar ume de nós, não são capazes de barrar o movimento como um todo. Entretanto, essa descentralização também dificulta que compartilhemos conhecimento além das fronteiras. Para superarmos isso, vemos duas opções: desenvolver laços informais com outres anarquistes em encontros como feiras anarquistas internacionais e outros eventos, e usando a Internet. Nós propomos o uso do No Trace Projet como plataforma para compartilhar o conhecimento que é adequado para ser compartilhado na Internet, não como substituto dos laços informais mas como um complemento útil para difundir informação além das redes informais já existentes.

2. Estabelecimento de princípios básicos de segurança

Anarquistes que executam ação direta deveriam analisar os riscos associados com suas ações e tomar precauções apropriadas: vestir-se discretamente, estar atente a vigilância por vídeo e traços de DNA, e afins. Entretanto, isso não é o suficiente. Se somente quem executa ação direta for precavide, é mais fácil para nossos inimigos chegarem a esse indivíduo. Isso acontece, primeiramente, pois elus se destacam: se apenas um punhado de compas sempre deixam seus celulares em casa, por exemplo, esse pode ser um óbvio ponto de partida para uma investigação sem nenhuma outra pista específica. Além disso, como nossos inimigos podem conseguir informações sobre elus através de amigues que que não participam de ações: se você deixar seu telefone em casa mas normalmente andar com amigues que andam com seus telefones, uma investigação poderia rastrear seus amigues para chegar a informações sobre você. Nós devemos portanto, estabelecer princípios básicos que todes nas redes anarquistas concordem em seguir, incluindo quem nunca executou ações diretas e não tem intenção de fazê-lo.

Não podemos ditar quais seriam estes princípios básicos, uma vez que dependem do contexto local, mas somos capazes de fazermos algumas sugestões. No mínimo, todes deveriam esconder informações de nossos inimigos ao não especular quem está envolvido em uma ação, não falar com a polícia, e criptografando (e usando uma senha forte) qualquer computador ou telefone usado para comunicação com outros anarquistas. Discutir assuntos sensíveis somente ao ar livre e longe de dispositivos eletrônicos, e não deixe evidente para seu círculo social com quem você tem conversas sensíveis (por exemplo, não convide alguém pra “dar uma volta” na frente de pessoas que não estão envolvidas no projeto que pretende discutir). Além disso, nós acreditamos que todos deveriam parar de usar redes sociais (e definitivamente parar de postar fotos de outres anarquistes) e deixar seus telefones em casa sempre (não somente durante ações). Carregar telefones com você afeta negativamente a segurança de todes com quem você interage.

Pode ser difícil convencer as pessoas a seguirem tais princípios básicos de segurança, especialmente se elus pensarem que não têm nenhum interesse pessoal em as seguirem. Se alguém estiver relutante, relembre que não é apenas sobre a segurança delu que está em jogo, mas também a segurança de outres anarquistes do entorno que podem estar executando ou planejando ações diretas. Todes que que querem que ações aconteçam têm interesse em dificultar o máximo possível que as autoridades reprimam redes anarquistas.

3. Explore novos horizontes

Nossos inimigos evoluem com o tempo, conforme refinam suas estratégias e técnicas. Nós deveríamos nos preparar, não para as batalhas que já aconteceram, mas para as batalhas que virão. Nós devemos portanto, ir além de nossas práticas de segurança atuais, antecipar a evolução de nossos inimigos, e desenvolver novas contramedidas.

Aqui estão três questões que acreditamos que o movimento anarquista internacional deveria explorar nos próximos anos.

Drones

Vigilância aérea está rapidamente se tornando mais barata e mais eficiente. Como deveríamos reagir a presença de drones policiais em manifestações, e afins? Como podemos detectar ou derrubar drones? Deveríamos nos preparar para o risco de drones e patrulhas aéreas se tornarem rotina, e se sim, como?

Tecnologias de reconhecimento facial

Em 2023, um jornalista rastreou a militante de esquerda alemã Daniela Klette, que estava na clandestinidade há décadas, usando tecnologia de reconhecimento facial, comparando fotos tiradas décadas atrás com uma foto atual no Facebook, tirada em uma aula de dança. O que podemos fazer contra esta ameaça? Como podemos nos preparar para o aumento da integração de tecnologias de reconhecimento facial a sistemas públicos de vigilância?

Falta de visibilidade em ações policiais

Até uns anos atrás, anarquistas usavam scanners de rádio para monitorar frequências policiais, para por exemplo, monitorar atividades policiais próximas enquanto executavam ações diretas. Hoje, na maioria dos contextos isso é impossível pois a comunicação das polícias são criptografadas. Nós podemos desenvolver novas técnicas para funcionalmente substituir scanners de rádio ou, de forma mais geral, ganhar conhecimento das atividades da polícia numa área específica?

Sobre es autores

Nós somos o No Trace Project. Nos últimos três anos, estamos construindo ferramentas para ajudar anarquistes a entenderem as capacidades de seus inimigos, superar esforços de vigilância, e em última instância agirem sem serem capturades. E nós planejamos continuar agindo nos anos que virão. Nós apreciamos todo feedback. Você pode visitar nosso website em notrace.how/pt-BR, e nos contatar em notrace@autistici.org.

Este texto está disponível em formato de zine.

Vamos nos preparar, e quem sabe a sorte estará do nosso lado.