Elementos da Cidade e Desafios Técnicos da Guerrilha

2024
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Historique

Texte d'origine en espagnol
Elementos de la ciudad y desafíos técnicos de la guerrilla
Nueva Subversión
2024
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Atualmente as operações urbanas são afetadas por muito mais fatores que em qualquer outro período da história das guerrilhas, complexificando o cenário e nos exigindo mudanças e reformulações, desde a leitura e reprodução de velhos manuais, até a elaboração própria da forma desconhecida do como, com quem, e quando damos combate ao inimigo.

Uma boa forma de começar é conhecer a morfologia das cidades, como o espaços estão dispostos. Para obter esse conhecimento, tem sido importante forjar não apenas teorias intelectuais, mas também compreender as intenções dos políticos, policiais e ficais têm para o controle e a tentativa de inibir ações violentas.

As novas guerrilhas urbanas são suscetíveis ao planejamento e avaliação contínua do “campo de batalha”, tendo como medida “saber pensar o espaço para saber organizar-se nele, para saber combater nele.”[1] É necessário compartilhar algumas considerações técnicas com implicações diretas no estudo e reflexão para que os desafios da ofensiva subversiva sejam efetivos.

A morfologia urbana

Estima-se que algo entre a metade e três quartos da população mundial resida em cidades. Junto deste processo e urbanização surgem não apenas processos demográficos e quantitativos, mas também culturais, tecnológicos e socioeconômicos. Isso faz com que o estudo das cidades se torne mais complexo.

O marco mais importante no campo dos estudos funcionais sobre cidades foi estabelecido pelo geógrafo alemão Walter Christaller, que aplicou algumas leis da economia a explicação da localização e consolidou as bases para a definição de um sistema de cidades, sob um padrão hexagonal, regido por uma hierarquia de centros urbanos a partir das distintas funções que cada cidade oferecia.

A partir de então, o estudo geográficos das cidades se organizou em dois campos separados, “o estudo das cidades”, e “o estudo da cidade”. O estudo da cidade se centrou nos temas morfológicos, que é a forma interna e externa das cidades, que se vê influenciada pela localização física e posição da entidade urbana com relação ao entorno próximo (outras cidades e vilas, meios de comunicação, informantes, etc.)

Os principais elementos que constituem a morfologia urbana são:

  1. A disposição das ruas ou da trama viária, que pode ser ortogonal, rádiocêntrico ou irregular[2].
  2. O tipo dos edifícios ou construções predominantes. Sua visualização direta é a melhor técnica de análise, permitindo determinar a forma de sua planta, elementos construtivos, entre outros.
  3. As funções das ruas e edifícios, que estão em relação direta com as suas formas.

Fig. 1: Região Metropolitana.

Para ampliar o entendimento destes elementos principais, é útil termos a noção de estrutura que seja na geografia como em outras disciplinas, “pressupõe que o espaço está regido por uma determinada ordem e ele constitui a organização essencial que o rege”[3].

Em relação a estrutura interna da cidade, existem diferentes modelos explicativos. Os principais são:

  1. O modelo concêntrico de Burguess: que assume que cidade se expande e faz uso do solo de maneira homogênea e circular.
  2. O modelo de setores de Hoyt que reconhece zonas de natureza setorial e não circular, como resultado do comportamento residencial das classes do topo do estrato social.
  3. O modelo de múltiplos núcleos de Harris e Ullman, onde a cidade não se estrutura a partir de um só núcleo central, existem núcleos múltiplos em função das atividades das atividades de cada um deles.

Os planos da fig. 1 mostram a trama viária de diferentes cidades. Sua visualização permite observarmos parte da estrutura na qual as cidades se baseiam; por ex., poderíamos interpretar para cada uso um dos três modelos mencionados antes. Mas também podemos levar em conta que não se pode replicar nenhum modelo por si só, pois pode existir uma mescla e inclusive a presença de elementos que ainda não estão contemplados estruturalmente na contante formação de cada cidade. Ao sistematizar estes elementos conhecidos e por conhecer padrões recorrentes ao campo. E para isso, além do reconhecimento sensorial cotidiano, se recomenda a elaboração e revisão de cartografias.

A cartografia guerrilheira

Utilizar ferramentas de cartografia é fundamental para estratégias guerrilheiras. Existem plataformas nas quais não é necessário ser um especialista de programação para manter um mapa ou plano online; o projeto uMap permite a qualquer um elaborar mapas com lugares destacados. Essa plataforma utiliza o mapa do projeto OpenStreetMap que é uma iniciativa autônoma de acesso aberto a um mapa global.

Com estas mesmas ferramentas a Cooperativa Geográfica Cambalache preparou um guia chamado “Mapea tu Causa”, que explica os passos para a elaboração de um mapa no uMap. Um exemplo de destaque da elaboração de cartografias radicais no uMap, é o que tem feito o grupo Evade la Vigilanca, que mantém e atualiza um mapa com câmeras de vigilância existentes no Chile e outros países[4].

Nesta linha, um dos desafios para o desenvolvimento estratégico das guerrilhas urbanas é contribuir para a criação de cenários operacionais hipotéticos, representados em mapas locais, atendendo as morfologias e tecnologias do espaço. Estes cenários podem ser construídos com base em:

  1. Pontos ou rotas cegas.
  2. Zonas de resfriamento.
  3. Locais escondidos ou de rompimento.
  4. Setores brancos ou vermelhos de perigo policial, militar e/ou civil (traficantes e gangues).
  5. Dispositivos onde nossos inimigos operam (casas, institutos, delegacias, estacionamentos, laboratórios, etc.)
  6. Fronteiras transnacionais (supondo-se clandestinidade).
  7. Vias de acesso rápido e zonas de aglomeração (supondo-se perseguição).

Um exemplo

Para termos uma ideia mais nítida, mostraremos a aplicação prática de uma planificação cartográfica, discutindo a partir de dois casos de operações hipotéticas: ambos visam um mesmo objetivo em um território de São Paulo, mas sob uma lógica de planificação diferente e por tanto, diferente execução. Seguiremos nos concentrando no campo espacial, utilizando um plano, as geometrias básicas; ponto, linhas e polígonos, uma descrição e finalmente uma análise para complementar o processo.

Nos casos apresentados, se representa o acontecido e o acionar de uma só pessoa. Entretanto, em uma operação real, este mesmo exercício deve ser realizado por cada um des participante da operação.

Mapa 1

Observamos um ponto de Início, um Objetivo e um Fim, que estão conectados por una longa rota que os atravessa. Por sua vez, observamos um primeiro e segundo raio, que correspondem a grandes áreas que representam certos graus de risco-segurança, dado sua proximidade-distância ao objetivo. Além disso, temos um ponto de Troca total na rota da ida ao Objetivo e outro ponto de Troca total na rota de volta, na retirada.

Mapa 2

Evidentemente neste caso também observamos um ponto de Início, um Objetivo e um Fim, conectados por una longa rota. Mas é perceptível a complexificação da operação; por um lado, a rota é mais extensa, tanto na ida quanto na volta, e diferente do caso anterior, há um terceiro raio, mas distante e mais seguro. E, por ourto lado, além do que se apresenta de aumento em termos espaciais, existe uma complexificação e diversidade de pontos de troca. Neste caso observamos, pontos de Troca total, mas também pontos de Troca parcial e maior uso de meios de transporte.

Análise cartográfica

O exercício apresentado é estruturado dentro de um dos muitos aspectos da segurança operacional; isso é, sinalizar cartograficamente uma planificação simples e complexa da intervenção e movimento em território urbano, que no melhor dos casos contribui para dificultar a reconstituição das rotas que es participantes de uma operação na investigação policial.

Há de se saber que os territórios se pretendem totalmente controlados, securitizados e vigiados. Entretanto, a realidade é que oferecem múltiplas oportunidades para a guerrilha urbana. A densidade e caos urbano e populacional contribuem para a dissipação do rastro do grupo sempre que se tomam as medidas adequadas.

Primeiro, há de se partir do entendimento que durante as operações haverão câmeras que não somos capazes de evadir e que registrarão nossas ações. Mas a condição para operamos não é a inexistência de câmeras, mas que as câmeras jamais capturem nossa identidade (rosto, tatuagens, etc.). Os nossos registros que assumimos como base, são os localizados no primeiro mapa, já que a investigação policial opera ao contrário; o rastreio para encontrar os responsáveis, partirá dos registros do mesmo ponto do Objetivo, e dali realizarão a reconstrução do acontecido desde es atacantes. De onde e sujeite veio? Até onde foi?

Por este motivo, o que realmente importa é previamente ter estudado bastante a localização destas câmeras nos raios, saber onde nos captam, e onde não, para desta forma saber jogar com elas e gerar rupturas efetivas. O resultado gerado, é que a polícia identifica nitidamente ae sujeite que ataca o objetivo, mas conforme vai reconstruindo a rota por câmeras, se depara com a perda de rastro, dado os vazios de vigilância que são aproveitados pelas Trocas totais ou parciais, e partes do trajeto com pouca presença de câmeras (rotas cegas). Em seguida a investigação é atrapalhada por uma multidão de suspeitos, pois es participantes se camuflam entre os transeuntes casuais dos pontos e rotas cegas. E a medida que a pessoa adiciona mais pontos de Troca total ou parcial, e rotas cegas, mais se multiplica a quantidade de suspeitos, mais confuso e menos rastros para a polícia. Em suma, essa técnica aumenta exponencialmente a quantidade de recursos e de tempo empregada pelas policias.

Agora portanto, se examinarmos ob esta lente dos casos expostos anteriormente, observamos que o primeiro caso (Mapa 1) é menos seguro comparado ao segundo (Mapa 2). Porque para encontrar es atacantes no primeiro caso, o que a polícia precisa fazer é superar o primeiro ponto de troca, e conectar que a pessoa observada no primeiro raio, é a mesma que se observa no segundo rádio. Com essa informação, poderia reconstituir seu trajeto até o destino, e com ele identificar a pessoa ligada ao domicílio, e rever seus deslocamentos com o uso, por exemplo, de georreferenciamento do seu celular, no dia e na hora da operação.

Ao examinar o segundo caso, observamos que é bem mais seguro do ponto de vista da quantidade de rupturas geradas diante da linha de investigação. Pois quando chega ao objetivo é uma pessoa, mas deste ponto até eu destino, é outras três pessoas totalmente distintas, outras duas pessoas parcialmente distintas que utilizam quatro meios de transporte diferentes, e que sempre que possível recorre a atalhos e pontos cegos. E esta mesma situação se aplica a reconstituição desde o ponto do objetivo até seu início, ou seja, desde onde vem. Esta é uma planificação que complexifica em muito uma reconstituição que efetivamente chegue a se tornar uma investigação policial robusta.

Pisar o espaço

O cerno do que tratamos neste esboço lida com a necessidade de “penar o espaço para poder organizar-se nele”. Mas é imprescindível que se entenda que cada planificação cartográfica precisa ser pisada, ser vivenciada com a multiplicidade de aspectos derivados desde antes até o momento em que se opera, e que não são abordados aqui.


1. 

Yves Lacoste, La geografía, un arma para la guerra, p.135.

2. 

“O ortogonal, ou xadrez, é quando o plano da cidade segue uma estrutura quadriculada, com ruas que se cruzam em ângulo reto. O radiocêntrico, é quando muitas ruas surgem do centro da cidade, em todas as direções, como raios, enquanto outras circulares os cortam e o cercam de todos os lados. E as irregulares, são ruas estreitas e sinuosas, muitas delas sem saída, criadas pela ausência da planificação prévia da construção.”, Isaac Buzo Sánchez, Apuntes de geografia humana.

3. 

Percy C. Acuña Vigil, Qué se entiende por estructura urbana.

4. 

Nota do No Trace Project: Em 2024, este mapa já não existe mais. Uma alternativa é Surveillance under Surveillance.