Uma base onde se apoiar: diferenciando OpSec de cultura de segurança

Março 23, 2023

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History

Texto original em Inglês
A Base to Stand On: Distinguishing OpSec and Security Culture
No Trace Project

Tradução para o português
No Trace Project

As vezes termos relacionados se tornam sinônimos, e as vezes isso não é um problema. O português é cheio deles, como “fantástico” e “incrível” — ninguém sente a diferença entre essas palavras.

Mas, as vezes, permitir que a diferença entre as palavras se perca pode também nos fazer perder uma parte importante do seu significado. Segurança Operacional (Operational security, OpSec) e cultura de segurança são dois termos que tem significados similares mas não idênticos, e ambos são partes necessárias de uma prática anarquista de segurança contra repressão.

OpSec se refere a práticas específicas usadas para evitar ser pego por uma ação ou projeto específico. Algumas práticas de OpSec incluem usar luvas e máscaras, usar sapatos diferentes, medidas para evitar deixar DNA, vestimenta black bloc, usar Tails para acesso anônimo a internet, e assim por diante. OpSec está no nível dos projetos e ações. Essas práticas podem ser ensinadas, mas em última instância apenas as pessoas envolvidas em um projeto específico precisam concordar com que práticas de OpSec usar.

De acordo com Confidence Courage Connection Trust: “Cultura de segurança se refere a uma série de práticas desenvolvida para avaliar riscos, controlar o fluxo de informação nas suas redes de contatos, e para construir relações sólidas.” Cultura de segurança acontece no nível dos relacionamentos ou das redes. Para que sejam efetivas, essas práticas precisam ser compartilhadas tão amplamente quanto possível.

A primeira vista, OpSec pode parecer mais importante. Se temos as práticas que precisamos para estarmos seguros, alguém pode pensar, então de que importa o que outras pessoas da cena fazem? Muitos anarquistas são (justificadamente) céticos quanto ao resto da cena e não se enxergam conectados ou confiando em pessoas que eles não tem íntima afinidade. Nos espaços anarquistas, muita energia é gasta no aperfeiçoamento de OpSec, o que parece apropriado, uma vez que se você quer tomar ações ofensivas, é preferível que não seja pego.

Entretanto, cultura de segurança também é importante, e mesmo uma boa OpSec não é capaz de substituí-la. Ela oferece o contexto social — a fundação — na qual todas nossas atividades são construídas. Pois, gostemos ou não, nós todos estamos entrelaçados em redes, e o preço de se livrar totalmente delas é alto. Sem uma base estável é muito mais difícil agir de forma segura.

Voltando ao Confidence Courage Connection Trust, as autoras escrevem que cultura de segurança não é sobre se fechar, mas de encontrar formas seguras de manter-se aberto para conexões com outros. Isso envolve ter conversas honestas sobre risco e estabelecer algumas normas básicas com redes amplas e não apenas com as pessoas com as quais pretendemos agir. Cultura de segurança não é algo estático — não é apenas uma série de regras que pessoas em subculturas “radicais” devem conhecer. É preciso que seja dinâmica, baseada em conversas contínuas e em nossas melhores análises de padrões atuais de repressão.

Práticas como a pré-aprovação de pessoas, mapeamento de redes, e verificação de antecedentes podem se parecer com OpSec e podem ser importantes para o planejamento de certas ações, mas elas surgem na cultura de segurança. Cultura de segurança envolve perguntar, “o que seria preciso para que eu confiasse em você?”. Isso não significa que você precise pré-aprovar todas as pessoas que conhece ou que não vá conviver com pessoas que você não aprovaria para participar de ações, significa apenas que você sabe bem em quem confia com oquê, e porque, e que você tem mecanismos para aprender a confiar em novas pessoas sem se arriscar.

Nem todas as boas práticas do mundo sobre como falar a respeito das ações que acontecem na sua cidade (cultura de segurança) vão te proteger se você deixar DNA no local (OpSec), e não importa que você seja brilhante em detectar vigilância física (OpSec) isso não vai te proteger de um policial infiltrado que se tornou amigo do seu colega de quarto para poder se aproximar de você (cultura de segurança). OpSec e práticas de cultura de segurança são distintas e uma não é capaz de substituir a outra. Desenvolvendo um entendimento mais detalhado dos dois modelos nós podemos tentar manter a nós mesmos e uns ao outros fora da cadeia enquanto continuamos construindo conexões e expandindo redes de afinidade.